Tudo é fogo-fatuo



Estou entrando em um cinema do interior, bem grande, talvez uns mil lugares, as cadeiras são simples sem estofamentos, mas o cinema é limpo e espaçoso. Naquela época costumava antes dos filmes eles colocarem música, me lembro que estava sozinho e também não havia muitos lugares ocupados, poucas pessoas. Se perguntarem do filme a ser exibido, não me lembro de jeito algum. Mas a música, isto me lembro perfeitamente, não o nome, o título. Mas os acordes estes sim e eram maravilhosos e profundos. Como se viessem do céu. Nunca mais ouvi tal música, mas aquela noite da minha mocidade ficou marcada para sempre. Tenho certeza que se ouvi-la novamente, imediatamente me lembrarei. Evocava a eternidade, a permanência ou qualquer coisa de sobrenatural.

E aquele eco ficou na minha mente. Era moço, era feliz, não tinha compromissos e parecia sim naquela época que a vida era realmente eterna e a morte alguma coisa muito distante e inimaginável. Passaram-se os anos, alguns felizes, outros nem tanto. Foram-se os amores e as estações se sucederam. A vida e as coisas se transformaram, algumas para melhor e outras nem tanto. As primaveras sucederam-se aos invernos, foram-se os anos da juventude e desembarquei na maturidade. Parafraseando Raimundo Correa,  "Os sonhos da juventude voam para longe e aos corações não voltam mais". Como se diz: na adolescência os céus são azuis e na velhice qual será a cor? Hoje vejo que nada é eterno, tudo muda, o que rege o mundo é muito mais a transitoriedade que a permanência.

Tudo é fogo-fátuo, tudo é vã fumaça que tende a se espalhar. O que permanece então? Acho que são nossas obras. Mas será necessário construir um arranha-céu para ficar para a posteridade? Ou descobrir a cura do câncer? Penso que não. A principal obra da gente que deverá permanecer como nosso legado, são nossos filhos, estes sim são nossa contribuição ao mundo. Mas que eles sejam saudáveis, fortes e independentes e se possível melhores que nós. Agora só nos resta escrever um livro e plantar uma árvore. Assim permaneceremos apesar da transitoriedade e viveremos através deles.

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