Que os inocentes não paguem pelos pecadores




Amanheceu uma manhã bem chuvosa em São Luiz do Paraitinga onde morava com meus pais na famosa Rua do Carvalho, assim mesmo fui à escola, a aula transcorria normalmente com uma chuvinha incomodativa a tamborilar no telhado e um friozinho que convidava a tomar café com pinhão. São Luiz naquela época era mais fria e estávamos em princípio de maio quando o frio começa a apertar. Já na Semana Santa a gente notava que o tempo dava uma esfriadinha de leve, as noites eram bem frescas, dava pra usar um cobertozinho ou um edredom leve. A festa da semana Santa se não me engano caia quase sempre no mês de abril. Esta festa era muito típica da cidade, o que me chamava à atenção eram as procissões em que se carregava o Senhor morto, era muito triste. Pois as pessoas estavam muito contritas com a fisionomia carregada, a hora era muito grave, pois o Senhor havia falecido na Cruz, então os homens lamentavam a sua morte em atos litúrgicos bastante complexos. O que mais me chamava à atenção era o canto da Verônica. 

Era uma mulher piedosa que enxugou o rosto do Cristo, ficando na própria toalha de linho, por ocasião de sua paixão, a marca indelével das feições do Senhor, devido ao sangue derramado das feridas que sofrera. O canto era lindo, mas ao mesmo tempo muito triste e ininteligível pelo menos para mim.  Na minha opinião não adianta falar do milagre sem contar as virtudes do Santo, pois vai aqui o relato do Santo e do milagre. A nossa escola segundo li ainda existe em São Luiz, vale lembrar que a mesma foi construída por Euclides da Cunha, famoso escritor e engenheiro e se chama Grupo Escolar Cel Domingues de Castro. Neste dia havia muita agitação entre os alunos, pois alguém havia falado um palavrão muito pesado, pronunciado bem alto e dirigido à professora, que com muita razão ficou muito ofendida, e a nossa lente queria saber por todos os meios quem havia pronunciado tamanha injúria. 
Porque se autor não fosse descoberto, a classe ia ficar de castigo, sem recreio e sem hora para sair da Escola. Todo mundo estava revoltado e o pior que muitos sabiam quem era o mal educado, só que ninguém queria falar. Pois o autor tinha fama de mal e batia na gente. Mas eu achei muita sacanagem e apontei o autor da malvadeza. Sabia que ia apanhar na saída da aula, mas não tive medo. Por minha coragem todo o mundo foi liberado até o "boca suja" dos palavrões. Mas na hora, surgiram mais pessoas em minha defesa até mesmo a professora. O valentão ficou amedrontado e não apanhei. Esta é uma das pequenas histórias de minha infância. 

Moral da história: Não se deve prejudicar uma comunidade por causa do mal feito de um indivíduo, a justiça tem que ser perseguida a todo custo.  Em segundo lugar não devemos ter medo de buscar a justiça mesmo que esta resulte em sacrifício ou perigo pra nós. Ter em mente que o homem mais justo da terra não temeu a morte em busca da verdade.

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