Saudades da minha terra.

 Nasci minha mãe disse: esse menino se Deus quiser vai ser feliz, Pequeno e franzino até com algumas doenças, lutei, era aperreado e teimoso, Vivia pelos caminhos a brincar, e como amplos eram os meus caminhos, O sossego da vida rural, o silencio às vezes no ouvido doía, Mas à tardinha os sapos no brejo, quando das brincadeiras regressava, Faziam o seu coaxar, mas como eram muitos, parecia uma banda de metaleiros Pois quando batiam na bigorna e faziam um som estridente, outros mais suaves faziam Gamela como dizia minha mãe: outros mais românticos entoavam um triste canto, Com certeza pra sua amada que estava no brejo enterrado, Por certo o pobre sapo da amada estava com saudade. E eu nesta lida fui pra cidade, os pobres sapos aí eram ridicularizados, Pisoteados morriam, quando não eram atropelados, ou mortos a pauladas pelos moleques desalmados. Minha vida parece com a deles, guardando as proporções devidas, vivia na roça, Lá era uma espécie de reizinho, o filho do patrão, mas na cidade que desilusão. Era muito magro e feio e ainda falava “acaipirado”, com sotaque atrapalhado. Fui por muitos ridicularizados, mas esqueci dos sapos e da roça, até mesmo da palhoça que me viu nascer. Dizia que era no Bairro dos Pintos que vi a luz do dia. Disto não me lembro, claro, é minha mãe que dizia. Nasci num ranchinho beira-chão com muito orgulho que hoje declaro, mas gostava muito do bairro onde vivia, tinha Moçambique e folias, de reis e do divino.

Ali queria ficar, pois era o meu lugar. Mas veio o destino e disse que não, de início não aceitei, confesso que até briguei, mas pensei meu pai tem razão, preciso neste lugar novo viver, apesar de que não achava graça. Mas fui aos poucos me adaptando. Mas confesso que ainda tenho uma saudade danada do sertão, o que fazer então, lutar contra o destino, isto não, disse: encarar este novo destino desta vida citadina é para mim um desafio. Então lutei pela vida nesta nova soledade, embora a saudade de vez em quando me ataviava, em sonhos pra linda terra queria voltar. Mas como agora, pois cada vez mais na cidade os desafios tinham que encarar, mas via a minha roça de um romantismo infantil, pois lá mesmo o elemento teria que domar, a vida é dura em qualquer lugar; "Não chores, meu filho; Não chores, que a vida É luta renhida: Viver é lutar. A vida é combate, Que os fracos abate, Que os fortes, os bravos Só pode exaltar!" Gonçalves Dias. Assim caí na luta e me enterrei até o pescoço na tarefa de me lapidar, me aperfeiçoar, pois vinha de ambiente simples e tinha que melhorar. Estudei tanto que um dia estava formado, mas da rocinha, jamais esqueci, é o meu recanto e o meu paraíso que um dia perdi. Mas um dia Minas conheci, pensei parece com minha roça, só mais aperfeiçoada, tem queijo, rapadura, pinga e melado, então por este Estado me senti apaixonado. Mas logo uma mineira meu coração conquistou, ela é bela morena e tem o coração apaixonado, então o meu coração logo se enamorou. Então volto à querência por outras maneiras através do coração da mineira ao recanto adorado. Penso a vida quanta volta dá. Quando pensa-se que está longe ao início voltamos. Reflito também que maneira tão boa de voltar ao aconchego encantado de minha infância, através dos braços desta mineira “arretada”. Imagino estamos numa boa, à única falta é a mineira que me faz.

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