A procissão dos mortos





"Criança! não verás país nenhum como este. Ama, com fé e orgulho, a terra em que nascestes!". São versos do grande poeta brasileiro Olavo Bilac, que ilustra bem o orgulho que a gente tem da terra que nos viu nascer. Cenário: cidadezinha do interior de São Paulo, rua estreita de terra batida, iluminação bem precária com postes baixos de madeira de eucalipto, poucas lâmpadas acesas, residências antigas assobradadas da época áurea do café no Vale do Paraíba. Pleno verão, céu límpido, suave brisa soprava. Como era de hábito as famílias iam às calçadas com suas cadeiras e poltronas para conversar e se refrescar com a brisa fresca da noite.

A molecada se divertia a pegar os sapos que iam atrás dos insetos, que ficavam ao redor das lâmpadas, com isto se distraiam muito. As famílias contavam histórias do tempo de dantes, dos coronéis e barões do café, e como não podia deixar de ser histórias de assombração. Estas histórias eram favorecidas pela atmosfera do lugar, casarões antigos, diziam que mal assombrados. A pouca iluminação da rua contribuía com uma atmosfera particularmente lúgubre, a própria via era caminho dos poucos enterros da cidade, pois dava no cemitério, apesar de que era longe.

Contava-se que pela meia noite passava na rua a procissão dos mortos, era um fila enorme de fantasmas de pessoas falecidas, todas com seus indefectíveis lençóis brancos, cabeça coberta com um véu, rezando muito e em voz alta. Como era uma procissão não poderia faltar o andor, o padre e o coroinha. Todos fantasmas claro! Estas histórias punham verdadeiro terror na criançada que logo que os grandes entravam para suas residências também iam dormir com medo da procissão dos mortos. Eu imaginava em meus pensamentos como poderia ser tal procissão e não me atrevia ficar na rua muito tarde da noite, logo ia dormir.

Se tais histórias eram verídicas ou não a gente não sabe. Pois no tempo antigo havia muito mais assombrações, é verdade. Mas o efeito era muito bom, pois a partir de certas horas da noite não havia ninguém na rua e a meninada estava dormindo, certamente com medo das almas penadas. Tais histórias contribuíam também para a tranquilidade do lugar, evitando barulhos e algazarras até altas horas . Pois a procissão tinha que passar.

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