A mente desapegada
A
mente desapegada
Vive-se falando em pensamento positivo, evitando é claro os negativos, concordo bastante, pois os pensamentos negativos muitas vezes contribuem para a nossa ruína. Tive ocasião de observar isto na época de minha doença, fiz promessas para sarar, mantive minha mente positiva e graças a Deus estou aqui para relatar-lhes minhas experiências. Mas gostaria de falar sobre os efeitos da mente desapegada. Dizem que os livros de autoajuda deveriam se chamar outroajuda, porque ajudam seus autores a ficarem ricos, existe um pouco de verdade nisso, mas existem por outro lado bons livros de autoajuda, que auxiliam enriquecer mentalmente a pessoa que os lê.
Penso que a Mente Desapegada seria aquela em que se abandonam todos os apegos materiais, inclusive com pessoas para se libertar a mente, parece uma coisa meio "hippie", aí então não ligaríamos mais pra nada, talvez seja um pouco de exagero. Mas o homem moderno é excessivamente apegado às coisas materiais, não se esquece delas um só minuto e gasta suas preciosas energias muitas vezes com quinquilharias, o excessivo apego ao dinheiro é prejudicial sem dúvida, mas um pouquinho de avareza teríamos que ter, pois diante de um mundo tão injusto e violento se não cuidarmos um pouco de nós mesmos certamente pereceríamos e seriamos eliminados pela seleção natural Darwiniana.
Alguém perguntou a Cristo a seguinte questão: Como faço para entrar no reino dos céus? Ele disse: abandone todos os seus bens materiais, vem e segue-me. Acho que até a igreja não dá muita importância a isto, por que ela própria é excessivamente apegada à riqueza, como no episódio recente desta semana em que na Alemanha um bispo constrói um palácio por $90 milhões de dólares, tinha até uma banheira de ouro. Como então vai transmitir aos fiéis a máxima do Evangelho da pobreza e do desapego a bens materiais? É muito complicado viver num mundo tão materialista como este, em que as riquezas e os bens materiais são valorizados ao máximo, em que muitas vezes o caráter de um homem é medido pela quantidade de dinheiro que possui.
E as coisas do espírito merecem muito pouca importância. Nietzsche disse uma vez que a gente deve subir a montanha para respirar o ar puro as vezes, mas não aconselha ficarmos lá constantemente, pois ele pode também nos inebriar. Vamos aos fatos: Região rural de São Luiz do Paraitinga, minha terra natal, era adolescente por volta de uns 18 anos, estamos pela época de dezembro fazia bem calor, mas amenizado pela noite muito linda que fazia, céu estrelado sem nenhuma nuvem, vez ou outra soprava brisa suave vinda dos matagais das redondezas, estou em uma casa rústica de sapé típica daquela região, uma casa de caboclo que quase não se encontra mais, até o caboclo se sofisticou! Esta choupana era do meu tio que vivia agregado ao sítio do meu pai, estes conversavam até altas horas da noite, o assunto como não podia deixar de ser era sobre colheitas, plantações, época de chuva, etc.
Como estava calor bastante deitei-me no chão da casa, numa posição bastante insólita, pois metade do meu corpo estava na soleira da porta da cozinha, mas mantinha meu rosto em direção ao céu, não prestava atenção àquela conversa que me despertava pouco interesse, pois não era agricultor, provavelmente estava iniciando o curso Colegial, tinha então os interesses voltados para os estudos. Pra começar sentia que estava com a mente livre de pensamentos ou preocupações, nada me incomodava nos meus dezoito anos, era sadio, era romântico, gostava de ler, não tinha grandes interesses materiais, talvez algum interesse sexual, pois começava arrumar namoradinhas, mas isso agora não me preocupava. O que me chamava à atenção era aquela noite linda, o céu cravejado de estrelas, a brisa suave da noite no meu rosto, a frescura da relva que cantava com o vento que soprava mansinho.
A minha mente foi sendo preenchida por aquele cenário, quando de repente tive a impressão que subi aos céus e fazia parte daquelas estrelas da Via láctea, claro que foi poucos segundos, mas foi uma sensação incrível que jamais esquecerei, a felicidade tomou conta de mim. Num átimo me senti no céu. Então entendi aquelas palavras de Cristo. Ou seja, o desapego. Nada dura aqui, as coisas materiais passam, a vida da gente passa como nuvens sopradas ao vento. Então porque o apego material se tudo passa nada permanece? O que fica é o que nosso coração e nossa alma retém, os bons momentos que realmente duram um átimo de segundo, mas com certeza refletem na nossa eternidade.
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