Pacto sinistro




Esta história de pacto com o diabo é muito antiga e anterior até o Fausto de Goethe, vem se não me engano do século XVI, onde já haviam histórias semelhantes de pessoas que fizeram isto e se deram muito mal. Minha mãe conta que no Bairro do Rio Acima tinha um senhor idoso, mas ainda forte e rijo, descendente de escravos, falo isto porque era um preto retinto, se chamava Moisés. 

Pois é, desde a infância este senhor queria aprender a tocar viola. Vale dizer que viola caipira, pois diferentemente do violão que tem 5 cordas a viola tem 10 cordas distribuídas em 5 pares. Pelo visto a viola é um instrumento mais difícil de ser tocado, pois tem mais cordas, Pois é, Moisés tinha um sonho na vida aprender tocar viola caipira e nunca conseguia. Mas um dia alguém, certamente "amigo da onça", lhe deu uma deixa de como poderia aprender. O método era fácil e infalível. 

Dizem que na sexta feira Santa o diabo está à solta, fica liberado para fazer suas diabruras. Então o método para aprender tocar viola, segundo seu amigo de segundas intenções, era fazer uma promessa um tanto macabra. Colocaria o instrumento em determinado local sob um pé de samambaia na sexta feira Santa, mas antes tinha que fazer um trato com o tinhoso, que lhe entregaria sua alma todinha, a partir daquela data sua alma teria novo dono, ou seja, o satanás. Mas em contrapartida, encontraria logo após a meia noite da fatídica sexta, sua viola afinada e tocando praticamente sozinha. Era só tanger o instrumento.

Seu Moisés cabra de coragem lá da roça, foi buscar o instrumento no horário combinado. Encontrou a viola afinadíssima, desde então foi o violeiro mais célebre do arraial, consta que ficou rico e famoso. Até esqueceu-se da promessa. O tempo passou... os janeiros se sucederam, até que os cabelos do seu Moisés se cobriram de cãs, e não se lembrou mais do trato que fizera. Mas tudo o que fazemos na terra aqui pagamos, diz o ditado. Não se sabe explicar direito, mas o homem ou ficou louco, ou o mais provável pensava que alguém o seguia e o chamava. Na sua solidão da velhice, quando caminhava pelas estradas ermas do bairro, o pobre homem se virava, mas não via ninguém. 

Com certeza seria uma alucinação? não se sabe, constantemente a gente via o senhor preto pelas estradas que de tempos em tempos parava no caminho para ouvir alguém chamando-o pelo nome (o diabo?), mas nada via. Nesta hora ele estalava os dedos e dizia uma coisa muito esquisita que ninguém entendia, "Pumbardeco". Definitivamente o pobre homem ficou biruta mesmo. Não  se deve fazer pacto ou trato com ninguém, ainda mais vender a alma. A história do seu Moisés ilustra isto. Mesmo que ganhemos muito dinheiro e fama, pois podemos perder a alma. Nada de pactos com o Demo.

Comentários

Postagens mais visitadas