"Não corra atrás das borboletas, plante flores que elas virão até você"





Faz tempo que não escrevo, talvez porque havia falta de assunto ou a inspiração não vinha. O meu maior foco de inspiração foi a minha infância que graças a Deus foi muito rica e cheia de experiências muito interessantes . Morávamos no alto de uma colina por assim dizer de onde divisávamos o mundo em volta, não posso negar a paisagem era muito linda em que nada lembra o apartamento em que moro com horizontes estreitos e visão feérica. Até os 11 anos de idade as campinas verdejantes era o meu mundo, poluição zero, sossego total só perturbado pelo mugido das vacas ou o anunciar de um pica pau, nos caminhos por onde andava alegre e feliz. Não tinha compromissos a não ser ir à escola; isto o meu pai fazia questão, era o local do meu único e inadiável afazer. 

Tarde sossegada como sempre só atrapalhada pelo chilrear de algum passarinho. Vinha sozinho pela estrada o silêncio era quase total, os pensamentos puros e claros que nem água, então era feliz e não sabia. Era o cair de uma tarde acredito que possa ser de primavera, ainda o calor não havia dominado totalmente o ambiente, fazia brisa suave, quando tive o meu ser invadido por uma imensa tranquilidade vinda daquelas paragens, minha mente tão tranquila parecia um lago de águas mansas, quando de repente os meus ouvidos são invadidos por suave música. Não era de rádio ou algum aparelho eletrônico ou vitrola. A música era natural e suave e casava com a tranquilidade do local, eram o coaxar dos sapos de tão ritmados formavam uma bela sinfonia. 

Pois a paisagem natural incluía brejos onde moravam batráquios em abundância que faziam este som que escutava e ia entrando pra dentro de minha mente e ia sendo gravado para sempre. Como a dizer: um dia você dificilmente terá oportunidade de contemplar cenário de tão rara beleza e gozar desta tranquilidade que agora usufrui. Pois foi verdade, pois fui pra cidade e minha vida virou um torvelinho, não quero dizer que foi ruim minhas experiências, mas esta experiência foi única e ímpar, como disse jamais se repetiu. Não quero dizer que a vida da cidade é totalmente ruim, mas ela esgota o nosso espírito sedento de espiritualidade, o barulho, a agitação faz mal ao homem e ocasionam o tão afamado "stress", coisa que aquela época eu não sabia e nunca tinha ouvido falar. Sabemos que hoje é um fato tão comum e corriqueiro, tal "stress"  muito ligado a vida das grandes cidades. Dele provém as neuroses  e todo tipo de doenças que hoje sei que se denominam psicossomáticas. 

Praticamente todas as doenças se originam deste mal, acredito que até o câncer. Os artistas são sensitivos e interpretam os seus e também nossos sentimentos. O Zeca Baleiro em uma de suas canções diz textualmente: "Os meus olhos tem a fome do horizonte", muito bem dito e extremamente poético. Os nossos olhos cansados de tantos muros, casas, asfaltos, barulho infernal que perturbam os nossos ouvidos, sofremos a falta de sossego, os nossos espíritos aprisionados em gaiolas imaginárias criadas pela civilização citadina nos causam muita tristeza e desalento. Destas para as doenças é um passo.O homem poderia viver muito mais feliz se se libertasse de certas amarras que o tolhem. Mas o que podemos fazer se a volta para o bucolismo rural é praticamente impossível.  Acho que a primeira coisa a ser feita é tentarmos tornar a vida mais humana, ou seja, prestarmos mais atenção ao que se passa a nossa volta, a seca está aí e as catástrofes também, devido aos desmandos do homem desregularam a natureza, as cidades são verdadeiros desertos, arvores nem pensar, podam e mutilam as poucas arvores que temos. 

Porque não fazemos como certas cidades e embutimos no solo as instalações elétricas É uma parafernália de fios e cabos que impedem as nossas poucas árvores de crescerem e até mesmo de dar frutos. Porque não plantamos arvores frutíferas para atrairmos mais aves e passarinhos? Porque não tornamos nossas cidades um verdadeiro jardim? Morava em uma tranquila avenida que era dividida por jardins, se bem que uma parte dela quando lá cheguei, achei que era a prefeitura que cuidava disto, mas me enganei redondamente, eram os moradores que se cotizavam e contratavam jardineiros para cuidar dos mesmos. Ao invés dos brasileiros ficarem esperando o governo, porque não por mão à obra e começar a plantar árvores nas cidades, na sua rua ou no seu quarteirão, esta simples providencia amenizaria o clima escaldante em que vivemos e embelezariam nossas ruas. 


Não corra atrás das borboletas, plante flores que elas virão até você. (Mário Quintana)

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