Na cauda de um cometa
Estes dias
atrás estava lendo sobre o cometa de Halley, astro descoberto pelo astrônomo Edmond Halley no século XVII, que descobriu sua revolução a cada 76 anos em torno do sol. Lembro-me de sua última aparição em 1986, fez-se um
fuzuê danado, porque disseram que era um cometa muito grande que iria iluminar
o céu noturno concorrendo com a lua em brilho e magnitude. Exatamente porque em
sua penúltima aparição em 1910 foi um espetáculo a parte, o céu ficou iluminado
por muitos dias e até meses, a terra cruzou com a cauda do cometa. Disseram que
as pessoas poderiam morrer envenenadas, pois sua cauda possuía cianetos. Mas
nada disso aconteceu fez-se apenas um espetáculo noturno de rara beleza e fugaz
porque em poucos meses desapareceu.
Diríamos que o Halley para aquela geração da segunda metade do século passado foi uma frustração danada, ficamos com o pescoço doendo a noite de tanto olhar o céu e as estrelas na esperança de divisar o importante astro noturno, mas foi um vexame porque dava apenas para divisar uma manchinha próxima a constelação do caranguejo se não me engano, em contraste com o belo espetáculo de 1910. Isto me faz lembrar as frustrações da vida da gente, quando imaginamos algo espetaculoso, lindo de morrer, mas a realidade trata de nos mostrar o contrário que não é nada disso. Às vezes esperamos demais das pessoas e elas frustram as nossas expectativas como o cometa de Halley, e “caímos da cama” como se diz, pois é o lugar onde os sonhos acontecem.
Os sonhos são grandiosos como tem que
ser, mas a realidade é outra. As pessoas
como o cometa que quando distante nos parecem maravilhosas, inspiradas, bonitas,
sinceras e honestas. Mas quando chegamos perto tudo muda, o que parecia grande
revela sua pequenez, não são tão bonitas assim e também cheia de defeitos. A
natureza é assim mesmo sempre está nos surpreendendo, as vezes pra mais outra
vezes pra menos. A história do cometa nos ensina que devemos viver o dia a dia
sem muito pessimismo, mas também sem expectativas exageradas. Viver um dia
atrás do outro, não esperar demais das pessoas, mas principalmente não exigir
demais de nós mesmos.
Não sermos exageradamente perfeccionistas, nos permitindo
pequenas falhas, desde que estas não atrapalhem o conjunto de nossa
personalidade. A ideia de perfeição exagerada, só tem levado a neuroses e
muitas vezes até ao suicídio. Deixemos a perfeição a Deus ou aos deuses que são
a projeção de nossos ideais. O
importante é vivermos bem conosco mesmo sem expectativas exageradas. Devemos perdoar ao próximo as suas pequenas
falhas como a nós mesmos.
Sendo assim
muitas vezes nos surpreendemos com as pessoas e com as coisas, nos deparando
com um belo dia de outono bem ensolarado e bastante friozinho, mas assim mesmo
nos sentimos felizes e animados com o espetáculo da natureza.
Muitas vezes a
rotina embaça nossos olhos e nossa percepção fica embargada e não vemos o belo
espetáculo que é o por do sol invernal ou então não notamos a presença de um
belo luar, ou então o marulhar das ondas do mar, quando temos oportunidade de
observar estas coisas.
Acho que
devíamos educar nossos sentidos para observar mais estas maravilhas da natureza
do que esperar cometas, que são raros e incertos e como próprio nome diz são
astros errantes no céu. Como diz Gibran em O Profeta: “No orvalho das pequenas
coisas o coração encontra sua manhã e sente-se refrescado”
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