Pelos caminhos de minha infância
Enfim era pobre, vivia em uma choupana, não exercia nenhuma espécie de consumo, não tínhamos radio ou televisão, nem telefone, enfim quase nada das comodidades modernas. Mas tinha algo que poucos hoje tem, a natureza, e esta praticamente intocada, ar puro, florestas, água limpa da fonte, poluição zero. Hoje posso dizer que tinha verdadeiros tesouros. Tinha a alma limpa e coração tranquilo, jamais perdia o sono por nada. Paradodiando Noel: "O meu teto era este céu cor de anil". Pelos caminhos ouvindo o coachar dos sapos no cair da tarde ou então o murmúrio do regato a cair pelas grutas ou então o lajedo, onde minha mãe dizia que lá morava a "encantada". Imaginava esta como uma moça loura e linda, mas que fazia desaparecer as crianças, aí então me dava medo.
A cidade, ah a cidade! também era romântica, constituída de pequeno casario colonial, com ruas de terra, onde ecoavam muitas vezes os cascos dos cavalos apressados dos viajantes, ou o som plangente de algum carro de boi com suas rodas cantantes. Os postes de luz baixos de madeira de eucalipto com suas luzes mortiças iluminavam os caminhos de minha infância. Vejo-me a jogar bolinhas de gude com meus coleguinhas ou a jogar bola de meia. Mas não ficava alheio a técnica e as notícias, lembro-me do 1º sputinik, rodava o céu e fazia bip bip bip...
Da cidade gostava do cinema, onde assistia com muita alegria, as aventuras de Roy Rogers e seu indomável cavalo Triger ou do Zorro. Lembro-me que assisti a um faroeste muito soturno em que dois homens brigavam em meio a fúria dos elementos da natureza. No final do filme o mocinho foi embora com seu cavalo sumindo na campina e um menino solitário o chamava dizendo: Shane...Shane... Shane... era seu amigo que ia embora. Como a dizer tudo termina, mesmo as amizades e a que despedida é muito triste de alguém que a gente ama. Como um dia tive que despedir desta querência maravilhosa, era um dia de sol pusemos nossas poucas coisas no lombo dos cavalos e saímos pelos caminhos em direção a cidade, na curva do caminho olhamos eu e minha mãe para a casinha branca da serra, construída com tanto esmero pelo meu pai, mas tínhamos que deixá-la, foi muito triste.
Fomos em direção â cidade pequena de início, mas depois fomos pra cidade grande e nunca mais voltamos ver os amanheceres na roça, o frio cortante das manhãs invernais, o calor do fogo, os quitutes de minha mãe. As brincadeiras de crianças e os folguedos da infância.
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