Sob o signo do medo




Vivemos sob o signo do medo. Medos de toda a espécie: da morte, de ficar pobre, da solidão, de não sermos amados e em consequência rejeitados. O medo permeia o mundo muito mais que a esperança; medo da guerra. Medo de nós mesmos e de nossos ódios e idiossincrasias. Freud foi o primeiro psicanalista a analisar os nossos medos e ódios e detectou que tudo começa com o nascimento ou até antes, pois verificou-se que antes de nascer temos emoções e por tabela também sentimos as emoções de nossa mãe intra útero. 

Nascemos muitas vezes em um mundo frio e agressivo, temos que mobilizar nossas defesas para não morrermos de fome, frio ou agredido por bactérias e vírus mortais. Enfim estarmos vivos é um tremendo acaso. Ainda mais com saúde, e no uso de nossas faculdades mentais. Mas se analisarmos a criança que um dia fomos, vemos que não tínhamos tanto medo assim. A infância é uma época mágica em que vivemos o presente, não se preocupamos com o passado nem com o futuro. Queremos apenas brincar e rir, curtir as brincadeiras e folguedos, nada parece difícil. Estava feliz com minha vida, embora pobre se compararmos com os dias de hoje, naquela época não conhecia outra forma de vida. Vivia pobre em um barraco de palha e sapé praticamente uma choupana, mas com o coração leve e solto junto com os meus familiares e amigos. 

Minhas avós e avôs, tios, padrinhos formavam uma comunidade que me protegiam e o medo não me acossava, só as vezes quando contavam alguma história de assombração. Mas logo esquecia, pois havia muita distração e brincadeiras. Participava das festas, das danças típicas e folclóricas, tais como o moçambique. Brincava com meus avós brincadeiras mais ou menos assim: "Joguei o chapéu pra cima pra ver onde caia, caiu no colo das moças, isso mesmo que eu queria". "Joguei o chapéu pra cima pra ver onde caia, caiu no colo das velhas creio em Deus padre, Ave Maria". As pessoas eram simples, autênticas, honestas, de modos que as crianças da época também herdaram isto. Hoje a gente sofre ver tantos desamores e crimes hediondos, a desonestidade campeia, o sentido de comunidade desapareceu. Vale o jargão: "Cada um pra si e Deus por alguns". 

As pessoas eram piedosas e educadas, tinham muita religião. Com tanto sentido comunitário e solidariedade, o dinheiro embora contasse, claro, mas muito menos, dependíamos muito menos do governo, eramos independentes e livres. As pessoas se ajudavam através dos mutirões. Se tinha que construir uma casa, praticamente em uma semana esta estava construída através dos mutirões. Se era necessário roçar um pasto, reunia-se um mutirão e em pouco tempo o pasto estava roçado. Daí era a vez do vizinho ter o seu pasto roçado. O governo nem ficava sabendo disso. O problema que  hoje em dia as pessoas não se cooperam, então vem os exploradores, leia-se políticos e nos exploram. Daí vem a pobreza, a falta de cooperação e de espírito público e com isso os medos de toda espécie. 

Poderíamos ser mais felizes se não houvesse tanta expectativa e consumismo, vive-se todo o mundo insatisfeito, os ricos com medo de seu dinheiro ser roubado, os pobres pensando que um dia serão ricos ou até milionários, mas morrem buscando a riqueza, o luxo e o consumismo. Nunca pensam no presente que seria o natural numa criança, mas estão sempre jogando a felicidade para o futuro, um dia serei  feliz, terei um carro ultimo tipo e uma bela mansão. Se esfalfam de trabalhar e muitas vezes não conseguem isto, vivem emburrados e mal humorados, não sabendo que as vezes a felicidade está no sorriso de uma criança, um abraço amigo, um bate papo gostoso e até mesmo um jogo de futebol. Não é necessário muita coisa pra ser feliz. Basta não estarmos com fome, abrigados em uma casa mesmo sem luxo, mas decente. O restante depende de nós, ou seja, está dentro do nosso próprio coração. O consumismo só nos infelicita, foi inventado pelo "capetalismo", é um saco sem fundo, compra-se, compra-se, fica-se individado e escravo dos comerciantes. 


Felicidade mesmo que é bom, nada. A felicidade não é isso, é muito diferente, é conviver bem com as pessoas, amá-las nas suas qualidades, defeitos e fraquezas, ter censo de comunidade. Nunca desejar a morte do vizinho, se há um desastre, não pensar que ele está longe e não vai nos atingir. Pensar que podemos ser a próxima vítima, ser solidário na alegria, mas também no infortúnio e na dor. Não esperar tudo do governo que só nos rouba. Se lembrar que o que precisamos muitas vezes está bem a nossa frente, e não em Paris , Londres ou Bagdad.

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